Sou Francisca Bianca Oliveira Rodrigues, mas quase todo mundo me conhece como Bianca ou simplesmente Bia da Impressos da Bia. Tenho 22 anos, sou jovem, mulher, empreendedora e educadora. Levo comigo a força das minhas raízes e a coragem de quem acredita que transformar o mundo começa com pequenos passos — e, muitas vezes, com uma folha de papel.
Sou filha de José Maria Rodrigues, agricultor e apicultor, e de Herleide de Souza Oliveira, agricultora e professora. Minha mãe é meu grande exemplo de persistência: formou-se aos 38 anos, nos ensinando que nunca é tarde para realizar nossos sonhos. Tenho uma irmã mais velha, Letícia, que atualmente mora em São Paulo. Nós viemos de uma família simples, mas cheia de valores e sonhos.
Nasci, cresci e ainda moro na comunidade do Sítio Ipueiras, zona rural de Jaguaribe, a cerca de 42 km da sede. Minha infância foi tranquila, mas também marcada por silenciamentos. Sempre fui uma criança curiosa, que adorava imaginar e explorar mundos novos dentro da minha cabeça. Mas, como tantas outras meninas, fui contida por estruturas patriarcais, alvo de bullying e de muitas situações que, mesmo sem eu entender na época, tentavam me diminuir.
Fui alfabetizada com apenas quatro anos e estudei toda minha vida em escola pública. Sempre vi os estudos como a chave para minha liberdade, como um modelo de transformação real. Mesmo com dificuldades financeiras e sem muito apoio institucional, segui em frente. Curseis duas graduações de forma virtual: História, com bolsa de 90% por mérito em um vestibular, e Pedagogia, com bolsa do Prouni. Também sou pós-graduada na área da educação. Essa área, para mim, é mais do que profissão — é missão, é amor, é transformação.
Foi ainda no ensino médio, com uma impressora simples, que percebi uma possibilidade além da sala de aula. Comecei fazendo xerox para colegas e, sem perceber, um hobby virou uma paixão e depois um negócio. Aquele simples ato de imprimir documentos me ensinou que eu podia construir algo meu, que gerasse renda e impacto. Hoje, sou Microempreendedora formal, e o que começou com uma impressora virou uma marca que carrego com orgulho: "Impressos da Bia". Mais do que papéis, entrego histórias, sonhos e momentos importantes da vida das pessoas.
Mas o caminho até aqui não foi fácil. Aos 19 anos, fui aprovada em meu primeiro concurso público, mas nunca fui chamada. Aos 21, fui aprovada em primeiro lugar numa seleção de estágio municipal, e mais uma vez não fui convocada. Essas injustiças mexeram comigo, me fizeram duvidar da minha trajetória acadêmica, me afastaram da sala de aula. Percebi, na pele, que nem sempre ser competente e dedicada é o suficiente para sermos vistas.
Esses desafios me fortaleceram. Entendi que, para muitas mulheres como eu, a autonomia é resistência. E o meu negócio virou meu grito de liberdade. Essa parte da minha jornada foi registrada no livro Um caminho para a inclusão produtiva das juventudes rurais do Ceará, nas páginas 98 a 103 — e recomendo a leitura, pois é um pedacinho da minha história contado com muito carinho.
Acredito profundamente em princípios como respeito mútuo, equidade de oportunidades e dignidade. Para mim, sucesso não é só lucro — é viver com integridade, apoiar os outros e contribuir para uma sociedade mais justa. E, claro, com espaço para todas nós, mulheres, brilharmos.
Participei da Comissão Municipal da Juventude em 2019, um projeto paralisado pela pandemia e não retomado — reflexo da falta de políticas públicas e do pouco engajamento institucional com a juventude rural. Também atuo na comissão de cultura do distrito de Feiticeiro e colaboro com a igreja católica da minha comunidade. Além disso, sou defensora da causa animal — não é à toa que muitos me chamam carinhosamente de Bia dos gatos. Sonho com um mundo onde esses seres tão puros possam viver com mais amor e justiça.
Para o futuro, desejo forças para continuar. Quero ver meu negócio crescer de forma justa, humana e transformadora, não apenas como um produto do capitalismo, mas como um serviço que respeita e valoriza as pessoas. Também quero atuar na educação, ajudando a formar crianças e jovens conscientes, críticos e engajados com o mundo que queremos construir.
Sinto que minha caminhada está só começando. Mas já aprendi que precisamos ser firmes em nossos objetivos e jamais calar diante das injustiças. Me inspiro em tantas mulheres que vieram antes de mim e deixaram rastros de coragem. Quero mostrar que podemos, sim, sonhar grande — mas com os pés no chão e os valores no coração. Que possamos definir o que é sucesso com base no que nos faz bem, alcançar nossos sonhos com as nossas próprias regras e viver uma vida que nos encha de orgulho.